Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada "civilização": consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.
Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.
Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: "Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro". Para o líder indígena, "civilizar-se" não é um destino. Sua crítica se dirige aos "consumidores do planeta", além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.
Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os "paraquedas coloridos" descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão.
A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020.
Cap. 1) Não se come dinheiro.
ResponderExcluirKrenak faz uma crítica ao antropocentrismo (o homem no centro do universo),
questionando sua atitude sobre os outros seres vivos e sobre o meio ambiente, que
segundo o autor sofre agressões de seus próprios filhos. Seguindo o texto, o autor
faz uma inclusão de todos os seres vivos dentro da humanidade e classifica o
homem como uma praga.
Há também questionamentos sobre “progresso” e “avanços da humanidade”
que na concepção do autor, destroem as florestas e beneficiam somente a elite do
capitalismo. Isso nos leva a uma crítica ácida sobre o consumismo exacerbado, que
nos leva a perder conexão com a natureza.
Krenak traz à luz a agroecologia (produção de alimentos sustentáveis) e a
permacultura(filosofia de trabalhar com, e não contra, a natureza).
(Cap. 2) Sonhos para adiar o fim do mundo.
O autor faz uma reflexão entre as sociedades ancestrais e a sociedade
presente, crítica à sociedade contemporânea, que segundo Krenak, não carrega e
nem se preocupa com a natureza em contrapartida com os povos indígenas. E que
questiona o nosso falso sentimento de superioridade que mata e destroi tudo aquilo
que nossos ancestrais veneravam e cuidavam.
Krenak fala que o fim do mundo pode ser adiado, mas que para isso ocorrer é
necessária uma mudança dentro da sociedade que dialoguem com a natureza.
(Cap. 3) A máquina de fazer coisa.
Aborda a obsolescência das instituições frente ao desmatamento e ao
consumo exacerbado, fruto do capitalismo, que prejudica e dificulta a criação de
uma sociedade sustentável.
Krenak também nos fala sobre o processo da longevidade, que não está
conectado com o processo natural da vida. E que o capitalismo financia essa
desconexão com a natureza.
(Cap. 4) O amanhã não está à venda.
Krenak volta a abordar o termo “humanidade”, que segundo ele está dividida
em duas: A primeira está em uma posição de poder e conforto e a outra que o autor
se refere como sub-humanidade que está em uma posição de vulnerabilidade
perante a primeira.
O autor faz menção ao pedido de silêncio através da pandemia, na qual a
terra fez para nós com o interesse de refletirmos sobre nossas ações abusivas e
destrutivas contra ela.
(Cap. 5) A vida não é útil.
Na visão de Krenak, “avanço tecnológico” tem como fim o lucro de hoje, sem
pensar no amanhã. Há também questionamentos sobre iniciativas sustentáveis, as
quais Krenak classifica como marketing que visa a melhora da autoimagem perante
a sociedade.
E, por último, uma crítica ao modo de vida utilitarista que se baseia em
produzir e consumir, ao contrário dos povos indígenas, que resistem e continuam
resistindo a esse modelo de vida.
Ótima análise Otavio Augusto, parabéns!
ResponderExcluirVídeo análise interessante sobre o livro, vale a pena conferir para ajudar nos estudos e entendimentos:
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=z9IAklWuPrw&list=PLTaAqXfT74PCAKEGWiBcqVYgy88LbZSxr&index=9
Ailton Krenak entrega neste livro uma crítica certeira ao jeito como vivemos hoje. O título já explica tudo: vivemos obcecados com o que é "útil" - ou seja, o que dá dinheiro, o que produz, o que gera resultado. Mas Krenak vem de uma cultura que pensa diferente. Para os povos indígenas, a vida vale por si só, não precisa "render" nada para ter valor.Falamos muito em progresso, mas estamos destruindo a natureza, vivendo estressados, correndo atrás de coisas que não nos fazem felizes.
ResponderExcluirSamuel_3DSB
Otima análise, Samuel! É um choque de realidade lembrar que existe outra forma de enxergar o mundo, uma que não vê a vida como uma corrida por resultados, mas como uma experiência digna de ser vivida por si só. Essa perspectiva indígena, trazida por Krenak com tanta propriedade, é um lembrete urgente e ao mesmo tempo um alívio. Urgente porque precisamos repensar nosso "progresso". E alívio porque nos liberta da pressão de sempre ter que render.
ExcluirMauricio_3DSB
A vida não é útil, de Ailton Krenak, reúne cinco textos que trazem reflexões e críticas fortes ao capitalismo ocidental, que costuma reduzir a vida e a natureza a simples ferramentas — e é daí que vem o título do livro.
ResponderExcluirKrenak defende que a vida tem valor por existir, e não pelo que produz. Para ele, o mundo também é um organismo vivo, que respira no seu próprio ritmo, mas a humanidade insiste em sufocá-lo com poluição e exploração sem limites. Em suas palavras ecoa o antigo provérbio indígena: “Só depois da última árvore cortada e do último peixe pescado, o homem perceberá que não se come dinheiro.”
O livro deixa clara a crítica ao consumismo desenfreado e ao utilitarismo capitalista. O que mais gostei é como Krenak nos faz repensar o sentido de estar vivo, lembrando que existir já é, por si só, suficiente.
Bruno_3DSA
As referências que Ailton Krenak usa em sua obra são incríveis, indo da cultura pop a livros prestigiados.
ResponderExcluirO jeito como ele explicita nossos problemas sociais e os analisa, mostrando caminhos a partir de sua cultura e dos conhecimentos da própria vida, é impressionante. A problematização do capitalismo e o respeito profundo que Ailton tem pela natureza são tópicos centrais do livro, que atravessam cada reflexão e cada narrativa.
Stephanie_3EAA
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirÉ um livro incrivelmente bom, o autor consegue fazer diversas críticas pertinentes ao modelo social e econômico que estamos instalados, sistema esse que tem destruído todo o nosso senso de humanidade e responsabilidade com o ambiente.
ExcluirMaria Heloísa - 3EAB
Ailton Krenak reflete sobre a disparidade criada pelo ser humano ao se colocar acima dos outros seres. Recorre as culturas indigenas para destacar a importância da conexão com o universo, propondo um coletivo natural como solução à crise atual. Crítica as potências econômicas e seus líderes, presos a um sistema que mostrou fragilidade na pandemia, mas também aqueles que se afastam da natureza em busca de uma utilidade para a vida. Reconhece que cada pessoa tem sua própria passagem e que não cabe a um único indivíduo assumir a responsabilidade de bilhões. Por fim sugere que a Terra talvez só se cure com o fim da humanidade.
ResponderExcluirPierre _3DSA
"A vida não é útil" de Ailton Krenak é uma obra que me provocuou muita reflexão ao longo da leitura, em cada conto foi abordado uma crítica social acerca das tendências destrutivas provocadas pelo homem e em especial, a pandemia do COVID 19. Ademais, o eu lírico é um lider indigena que sempre ressalta que o mundo é um ser vivo e está sendo destruido aos poucos pela chamada "civilização", que muita das vezes é ironizada ao longo da leitura. Reflexões sobre o valor do planeta, a utilização do dinheiro e principalmente, a inutilidade da vida são tópicos muito interessantes.
ResponderExcluirMauricio_3DSB
No livro "A Vida Não É Útil", de Ailton Krenak, o autor faz algumas reflexões em relação a como a humanidade tem interagido socialmente e com a natureza. Ele critica a lógica do capitalismo e do progresso, que reduz a vida ao que é "útil" e produtivo, descartando aquilo que não serve ao consumo. Além disso, o escritor discorre sobre como a nossa visão crítica da realidade tem sido alterada em decorrência desse sistema. Pensando nisso, Krenak propõe que repensemos nossa existência a partir de uma perspectiva mais ampla, inspirada nos povos tradicionais, que enxergam a terra como um organismo vivo e não apenas como um recurso.
ResponderExcluirMaria Heloisa - 3°EAB